A Importância de Reconhecer e Cuidar da Saúde Mental na Infância e Adolescência

19 de jan. de 2024

A Importância de Reconhecer e Cuidar da Saúde Mental na Infância e Adolescência

A saúde mental, apesar de sua relevância, ainda é frequentemente negligenciada. Muitos acreditam erroneamente que os transtornos mentais são uma questão de escolha ou algo que pode ser controlado pela força de vontade. No entanto, assim como qualquer outra doença, os transtornos mentais não estão sob nosso controle.

Há uma percepção comum de que a infância e a adolescência são fases de pura felicidade, por serem períodos aparentemente livres de grandes responsabilidades, como pagar contas ou sustentar uma família. No entanto, ao refletirmos sobre essas etapas, percebemos que também são marcadas por desafios significativos, como separações familiares, pressão social e escolar, questões de autoimagem, abusos, negligência e mudanças hormonais. Nessas fases, a falta de maturidade e experiência dificulta a compreensão de que essas dificuldades são passageiras.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que cerca de 20% das crianças e adolescentes têm algum transtorno mental, sendo a ansiedade e a depressão os mais comuns. Até a década de 1970, acreditava-se que transtornos como esses eram raros ou inexistentes nessa faixa etária. Contudo, a atenção a esses problemas aumentou à medida que adultos com esses transtornos relataram seus primeiros episódios durante a infância ou adolescência. Isso despertou o interesse de pesquisadores em estudar e prevenir essas condições desde cedo. Infelizmente, os estudos mostram um aumento significativo na prevalência desses transtornos, especialmente após o período pandêmico, quando muitos passaram por desafios como alfabetização e socialização em isolamento, além das perdas de familiares próximos.

Outro ponto importante é a padronização dos sintomas da depressão. Muitas pessoas acreditam que estar triste e isolado são as únicas características da depressão, mas isso é um equívoco. Cada fase da vida apresenta sintomas específicos. Na infância, por exemplo, a depressão pode se manifestar por meio de irritabilidade, dificuldades escolares ou falta de interesse em atividades lúdicas. Na adolescência, pode haver mudanças de humor, isolamento, queda no rendimento escolar e até comportamentos de risco. É crucial lembrar que apenas um médico psiquiatra ou um psicólogo está apto a diagnosticar corretamente esses transtornos, pois são profissionais capacitados para investigar e compreender essas condições.

Identificar alguém com depressão ou ansiedade nem sempre é fácil, a menos que tenhamos sensibilidade para ouvir, acolher sem julgamento e incentivar a busca por ajuda profissional. Desmistificar a ideia de que cuidar da saúde mental é “coisa de louco” é fundamental. Quanto mais cedo a intervenção, menores serão os danos. Em alguns casos, até mesmo crianças e adolescentes podem precisar de medicação, que, longe de ser prejudicial, pode ser uma aliada no tratamento. Muitas vezes, iniciar o tratamento medicamentoso é necessário antes mesmo da psicoterapia, para estabilizar sintomas e permitir um melhor engajamento no processo terapêutico.

O mais importante nessa faixa etária é investir na prevenção, promovendo um ambiente saudável, atividades de lazer, noites de sono adequadas, práticas regulares de atividade física, menos pressão escolar e cuidados com o uso das redes sociais. Embora as redes sociais tragam benefícios, também geram uma ilusão de vida perfeita, levando a comparações prejudiciais.

Por fim, é essencial buscar meios de oferecer ajuda inicial, como entrar em contato com o CVV (Centro de Valorização da Vida) ou postos de saúde, e incentivar crianças e adolescentes a terem um vínculo forte com um adulto de confiança, com quem possam compartilhar suas angústias sem medo de julgamento.

Por: Natália Souza 
CRP: 06/110383
Psicóloga Clínica Educacional e Esportiva, especialista em crianças e adolescentes